As Batalhas dos Guararapes integram-se no âmbito das chamadas Guerras da Restauração da Independência de Portugal, que foram travadas no Brasil, nos Montes dos Guararapes da antiga Capitania de Pernambuco, entre a República das Sete Províncias Unidas (Países Baixos) e os defensores do Império Português sob o comando do General Francisco Barreto de Menezes.
Estas Batalhas ocorreram na sequência da ocupação holandesa no Nordeste da colónia portuguesa do Brasil. A ocupação holandesa de territórios portugueses ocorreu desde quando o Reino de Portugal passou a ser governado pelos Reis de Espanha (1580), após a morte de Rei D. Sebastião (1578) e o efémero Reinado do Cardeal D. Henrique. Os Países Baixos, dos quais a Holanda era a principal província, estavam em guerra contra a dominação ibérica.
Uma forma adoptada pelos holandeses para atacar os espanhóis foi ocupar os territórios ultramarinos de Espanha e Portugal. Para isso, a Holanda criou duas empresas de actuação internacional, as Companhias das Índias Ocidentais e Orientais. A primeira ficou responsável pela ocupação do Nordeste brasileiro, acção que se iniciou em 1624, na Bahia. Mas a permanência holandesa nesse local durou apenas um ano, já que foram expulsos em 1625. Porém, em 1630, os holandeses conseguiram ocupar a capitania de Pernambuco, estendendo ao longo dos anos seu domínio da foz do Rio São Francisco (em Alagoas e Sergipe) até ao Ceará.
Além das motivações de ordem geo-política da reintegração de Pernambuco como parte integrante da Colónia do Brasil e do Reino de Portugal, existiam ainda as motivações de ordem religiosa. O sentimento dos católicos portugueses contra os protestantes holandeses revelou-se ser um poderoso estímulo para o combate.
Na primeira Batalha ocorrida nos dias 18 e 19 de Abril de 1648, os holandeses tentaram atacar os portugueses por terra, dirigindo-se ao sul do Recife, onde ficava o monte dos Guararapes. Para enfrentá-los, o General Francisco Barreto de Menezes, contava com o apoio de alguns experimentados oficiais e cabos de guerra luso-brasileiros: João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros, António Dias Cardoso, Filipe Camarão (índio potiguar convertido ao catolicismo, que liderava uma força de índios), e Henrique Dias (escravo liberto que liderava uma força de negros).

A vitória alcançada pelas tropas portuguesas foi prodigiosa, pois, mesmo com um exército de 7.400 homens, os flamengos não foram bastantes para os 2.200 homens comandados pelo General Francisco Barreto de Menezes. No fim desta primeira Batalha, o campo de combate ficaria com 1.200 mortos (180 oficiais e sargentos) e 700 feridos do lado holandês, e 84 mortos e 400 feridos do lado português.
A segunda batalha aconteceria no mesmo lugar dez meses depois, a 19 de Fevereiro de 1649. Quando chegou ao primeiro monte dos Guararapes o exército português formado por 2.650 homens, o inimigo composto por um contingente de 5.000 homens já ocupava todos os outros e na baixa (boqueirão) onde havia ocorrido o principal da batalha anterior. Mandou o General Francisco Barreto de Meneses fazer alto e tomou conselho por onde haveriam de buscar a luta, se pela frente, se pela retaguarda ou se pelos lados. André Vidal de Negreiros aconselhou que fosse pela frente, mas João Fernandes Vieira, que vinha com o grosso da gente, deu parecer contrário: que se buscasse o inimigo pela retaguarda (como na 1ª batalha) uma vez que onde estavam não tinha água e deveriam acampar com algum conforto ao fim da tarde, deixando o inimigo holandês à espera.

Concordou o General Francisco Barreto de Meneses com este último parecer, mandando-os postar suas forças num engenho ali perto onde repousaram e traçaram o plano de ataque, pelo que se concordou em iniciar a ação tão logo abandonasse o inimigo suas posições. No início da tarde do dia 19, logo que os holandeses foram desocupando o alto dos montes para formarem um grande esquadrão na direção do Recife, o exército luso-brasileiro iniciou a aproximação.
João Fernandes Vieira com 800 de seus homens foi o primeiro a entrar na luta, bem no meio da área que chamavam boqueirão, onde o inimigo tinha 6 esquadrões e duas peças de artilharia. Depois de cerca de meia hora sob intenso fogo de artilharia inimiga, as tropas luso-brasileiras após uma última carga na fronte do inimigo, investiram à espada, e assim ganharam o boqueirão (apesar da brava resistência dos lanceiros holandeses).
Nesta altura todo o contingente lusitano já estava em luta, tomado o monte central e suas 4 peças de artilharia, bem como as tendas do comandante holandês Van den Brinck (que foi morto na ocasião). Os portugueses pressionaram os inimigos até à sua desintegração e fuga para Recife, muitos fugindo para os matos, eram perseguidos pelos luso-brasileiros, a quem muitos no desespero se entregavam implorando pelas vidas.
Quanto às perdas sofridas pelos holandeses às mãos dos portugueses, existe um documento contemporâneo publicado em Viena d’Áustria, no próprio ano da batalha (1649), por um autor anónimo, em alemão e traduzido para castelhano sob o título Relación de la Victoria que los Portugueses de Pernambuco Alcançaron de los de la Compañia del Brasil en los Garerapes 19 de Febrero de 1649, onde se afirma:
“A derrota foi cruel e sangrenta, e os portugueses, matando a todos os que encontravam, continuaram a vitória pelo espaço de duas léguas, até à Barreta, onde o General [Francisco Barreto de Menezes] deixou algumas companhias para impedir o passo aos fugitivos. Cansados todos, uns de fugir, e outros de matar e vencer. E pelo espaço de três dias andaram os portugueses dando morte e cativando aos que se tinham retirado e escondido naqueles bosques e montanhas.”
Nesta admirável vitória perderam os holandeses mais de 2.500 homens, entre mortos e presos, com quase todos os oficiais e cabos do seu exército, escapando só dois Mestres-de-Campo, um Sargento-Mor e quatro Capitães, além de 1.000 soldados e cerca de 500 feridos.
A dupla vitória portuguesa nos montes Guararapes poria fim às invasões holandesas no Brasil e ao chamado “Brasil Holandês”. A capitulação neerlandesa deu-se no Recife em 1654, de onde partiram os últimos navios batavos em direção à Europa..